A primeira vez que efetivamente comi tapas em um bar espanhol (eram tapas e não pintxos, porque estávamos em Sevilha e é assim que se chama lá) fomos levadas por uma amiga espanhola. Era um lugar pequeno, entulhado de gente, alguns sentados na barra mas a grande maioria em pé ou encostado em mesas altas. Nossa amiga que já conhecia o lugar foi se enfiando bar a dentro até encontrar um espaço onde coubéssemos. Em pé, naturalmente. Nos deixou ali e foi se metendo até o balcão, e, por cima dos ombros de outras pessoas, chamou o cara que servia e pediu os vinhos e as tapas. E trouxe tudo ela mesma. Apoiei minha taça em um batente da janela e ficamos ali, papeando. Depois fomos a outro bar e o processo se repetiu. No fim tínhamos bebido umas três taças de vinho e comido talvez umas quatro tapas.
Para nós, brasileiros, é um processo complicado. Estamos acostumados a sentar em uma mesa, esperar o garçom, fazer os pedidos e sempre que quisermos mais alguma coisa, ele estará sempre ali para nos trazer. Ele corre atrás e nós ficamos comodamente esperando. Mesmo nos botequins cariocas, com o hábito de uma cervejinha do lado de fora do bar, muitas vezes há um garçom circulando.
Aqui na Espanha o processo parece ser o contrário do nosso. O objetivo parece não ser beber ou comer demais, mas beber e comer apenas na medida de alimentar a conversa, estimular o papo, mesmo que esse dure toda a noite. Talvez por isso eles não se importem tanto em ultrapassar multidões para conseguir sua bebida e seus pintxos. Foi interessante ver cedinho na manhã do dia após o réveillon, muitos jovens voltando das festas e nenhum parecer embriagado.
Bom, chegamos nós aqui no País Basco, duas senhoras de cabelos brancos em um lugar famoso pelos pintxos e todos os blogs de viagem sugerindo bares de pintxos, e os sites de gastronomia dizendo quais os melhores. Tínhamos que provar, claro! Todos diziam que os melhores pintxos estavam nos bares mais cheios de gente, que o bar sujo era sinal que tinhas bons pintxos porque todos iam lá.
Aí nos deparamos com dificuldades imensas: como chegar até o balcão? Como gritar para o cara? E pedir o que? Qual? São tantos e com caras tão ótimas que ou você pede porque já conhece ou arrisca só pela cara. Como tem muita gente, você tem que pedir e pagar logo. Se os com multidões são os melhores, esses é que são complicados de chegar e ser atendido.
E tem mais. Na hora do almoço o povo pede um ou dois pintxos e pronto, está almoçado. E nós, que nos acostumamos a almoçar mais fartamente e sentados? No primeiro dia ficamos olhando aqueles balcões cheios de coisas lindas, sem saber como chegar e como pedir. Terminamos fazendo a heresia de comer uma paella, num lugar que só vendia paella. Tava horrível! Mas quando o lugar estava quase fechando e já não tinha muita gente, fui procurar um lugar mais tranquilo, com lugar para sentar e comi meu primeiro pintxo, uma coisa divina que misturava presunto de Parma, queijo de cabra e um molho de cebolas caramelizadas.
Dai em diante resolvi desprezar o conselho de ir em bar lotado, porque reconheço que não tenho a competência espanhola de ir abrindo espaço e de saber pedir. Usamos a estratégia de chegar mais cedo, num horário ainda não espanhol, sentarmos na barra, às vezes perguntar à pessoa do lado o que é que ela tá comendo, e tem dado pra saber o que pedir. E se de-li-ci-ar. Porque, gente, esses pequenos petiscos são maravilhosos. Também descobri que três pintxos e uma taça de vinho é mais que suficiente para um almoço. E você vai pagar algo em torno de 3 euros por cada pintxo e 2 e pouco pelo vinho. Com a ressalva que a taça de vinho é na verdade 1/3 da taça. Mas é muito barato e os vinhos da casa são sempre muito bons.
Então, se você for ousado, enfie-se na multidão e vá em frente. Mas se for senhores ou senhoras assim menos intrépidos, usem da nossa estratégia. Mas nunca, nunquinha, deixe de comer essas coisinhas incríveis.