Apesar de todo o México festejar o “Dia de Muertos”, desde que pensamos nessa viagem tínhamos a intenção de estar em uma cidade pequena neste dia. Imaginávamos que assim estaríamos em um festejo mais autêntico, menos turísticos. E escolhemos San Miguel de Allende, cidade da província de Guanajuato, mais ao norte da Cidade do Mexico, de onde está a 3 horas de ônibus. Além do nome lindo, a cidade nos atraiu por se situar no chamado “México colonial”.
Fomos de Puebla a San Miguel de ônibus em um percurso de 3 horas e pouco. Os ônibus que são super confortáveis, as estradas excelentes e, interessante, em todos nos servem lanche (geralmente agua ou refrigerante, sanduíche, biscoitos) grátis!
Depois dos mais de 2.000 metros de altitude de Puebla, que demorei a me acostumar, com meu coração disparando a cada andada mais puxada, foi um alívio chegar a San Miguel, com seu 1.800 metros. Parece pouco, mas já fez uma grande diferença. Ou então nós já estávamos acostumadas. O fato é que encarar as ladeiras de San Miguel foi bem mais tranquilo. Sim, porque existem muitas ladeiras, ruas estreitas e trânsito maluco. E o trânsito é maluco porque não existem semáforos em San Miguel! Mas é legal ver que, apesar disso, não vimos nenhum acidente e sempre que parávamos em uma travessia de pedestres, todos os carros paravam imediatamente.
San Miguel é uma cidade lindinha e realmente muito parecida com as cidades européias pela arquitetura e traçado sinuoso das ruas. E não é um “pueblito”. Tem uma população de mais de 50 mil habitantes, dos quais cerca de 17% são estadunidenses e canadenses. Esses estrangeiros residentes formam uma colônia tão forte que chegam a ter seus próprios festejos do dia dos mortos. Há uma grande polêmica sobre esse enclave norte-americano. Uns acham que é interessante porque atrai turistas e move a economia, outros acham que eles não tem interesse na cultura mexicana, inflacionam o mercado e nem se interessam nem em aprender o idioma.
De qualquer maneira San Miguel tem muitos, mas muitos turistas. Não sei se é somente nessa época do ano, mas a cidade estava lotada de gente de todas as nacionalidades. E realmente os preços são mais altos que em Puebla, tanto na hospedagem quanto na alimentação. Mas apesar da multidão a cidade é linda, o centro histórico é precioso e se come muito bem. Talvez por conta dessa multiculturalidade já se pode encontrar restaurantes com comida de outras nacionalidades.
Tal como contamos que estava Puebla, aqui também o Dia de Muertos não é somente o dia 2 de novembro. As celebrações, as decorações, as fantasias estão presentes na cidade dias antes. Tive muita vontade de fazer a maquiagem típica das Catrinas, mas apesar de ter muitos lugares fazendo, estavam sempre cheio de gente e com filas grandes. E ai vamos encontrar desde maquiagens sofisticadas, com gliter, pedrinhas e desenhos, até as mais pobrinhas, que parece que simplesmente passaram carvão ao redor dos olhos.
A noite do dia primeiro foi a grande festa popular. Um cortejo saiu do centro da cidade e desceu as “callejitas” até o pátio da igreja de San Juan de Dios. O cortejo não é exatamente o que conhecemos como fúnebre. Ao contrário, há reverência mas também música e alegria. É aberto pelo pároco católico local e seguido por bandas de músicas, mariachis, carpideiras, Catrinas e Catrines (o equivalente masculino), uma ala só de senhorinhas com seus trajes típicos, outra só de crianças usando fantasias ligadas ao tema.
Aqui não há costume de distribuir doces para as crianças, mas vi alguns “gringos” fazendo isso como se fosse o “halloween” deles. No entanto há barracas com doces por todo canto. Doces de açúcar no formato de caveiras, catrinas, caixões, animais, e tudo que se possa imaginar. Depois do cortejo se dispersar teve distribuição do “pão dos mortos” pelos padeiros locais a todos os que estavam na praça e nos sentamos para ouvir um concerto de mariachis e uma cantora local de voz maravilhosa, que não entendemos o nome. Uma noite linda, tranquila e inesquecível. Uma coisa nos chamou a atenção e nos fez pensar na diferença com os festejos em nosso país: não vimos em nenhum momento consumo de bebida alcoólica, nem mesmo uma simples cerveja.
San Miguel tem aquelas fortes e lindas cores mexicanas e o melhor lugar para encontrar seu artesanato é o Mercado de Artesanias. Não imagine um galpão, como são normalmente esses mercados. Aqui as barracas de artesanato se apertam de um lado e do outro de um beco sinuoso e enorme, que ocupa cerca de 6 quarteirões. Uma festa para quem gosta de catar preciosidades.
Mas também há um artesanato mais sofisticado. Prata, roupas em linho em modelos rústicos, quadros e esculturas. Esses produtos, obviamente, não estão no Mercado, mas em pequenas lojas. Uma delas está no Mercado del Carmem, um lugar imperdível para se comer e beber. É um espaço meio hipster, com boxes vendendo vários tipos de comidas e bebidas, e mesas únicas para servir todos os boxes. Muito recomendado!
E assim é San Miguel de Allende, um lugar multicultural, movimentado, lindo e imperdível.