Antes de chegarmos a Tromsø, em plena madrugada, cruzamos a linha do círculo polar ártico. Claro que não vi nada, mas meus companheiros viram e o único sinal é um marco de um globo em uma pedra na margem do fiorde. Dizem que o navio apitou forte. Eu não ouvi nada.
Mas no dia seguinte houve uma celebração a bordo. Uma brincadeira daquelas ridículas que o povo adora e eu fico só rindo do povo adorar. É assim: alguém da tripulação se veste de Netuno e eu que sempre fantasiei um Netuno, rei dos mares, com uma cara e um porte de um Viking parrudo, vejo aparecer um velho corcunda, com narigão e dentões mais parecido com um bruxo que com um rei, apesar de usar coroa.
Uma bacia de pedras de gelo é providenciada e Netuno vai batizando todo mundo que quer ser batizado. O batismo consiste em enfiar em sua roupa pela parte do pescoço uma colherada de pedras de gelo. Tudo isso no convés do barco, com temperaturas beirando os 4 graus. Além do vento que joga a sensação térmica mais pra baixo ainda.
Devo confessar que quis provar daquele frio me descendo pelas costas e fui lá pra fila. Felizmente não há registros desse meu ato de insanidade. Mas não foi nada mortal.